30 de setembro de 2009

Catavento

Era uma varanda grande
Do tipo que se podia cultivar plantas, contar histórias
Estender uma rede pra ler um livro
Afinal, o que se espera de uma varanda?
O problema das varandas é que elas se abrem para o infinito
E aí, aquele velho medo do medo
De repente
Vontade de voltar pra sala
Fechar os olhos
Sentir o vento
E sair voando por cenários imaginários

29 de setembro de 2009

Caleidoscópio

                 Pare de me acariciar com suas sombras morenas, morena...
                                         Não vê que eu percebo o cheiro
                                                                                    Por debaixo
                                                               Do seu                                                       
                                                                                     Vestido?
Não vê que confunde os meus sentidos ao deixar no ar
                             A língua dos meus olhos em busca de outros lagos
                                                                                                          Pra deslizar?
Será mesmo açúcar caramelado que
                    Escorre
                            Em suas veias?


Ou será você mais uma dessas bruxinhas
De alma de porcelana
E truques

                                                                      Vãos?



                                    

11 de setembro de 2009

O Farol

Era dada a pressentimentos.
Os fantasmas da noite a reencontravam no café da manhã.
E, vez, por outra, ao longo do dia, dava de cara com eles, encostados num canto qualquer, de braços cruzados, a espiar pelo canto do olho.
Queria que eles não estivessem ali. Sabia que só dependia dela fazer com que eles desaparecessem. Mas até isso fazia com que fosse irresistível olhar pra eles.


Gozo

Chego em casa correndo e mergulho nas páginas de um livro como quem abre as pernas para um amante.


Dissimulada

Às vezes, me sinto meio hipócrita. Como pode que todos os meus sentidos se concentrem num fenômeno que, no momento seguinte, já não me merece uma olhadela?
Me esforço, então, para voltar ao primeiro ponto: é preciso coerência no sentir.
Descubro, afinal, a hipocrisia.


10 de setembro de 2009

Medo da luz acesa

Se entregava em sacrifício para provar ao mundo a absoluta falta de sentido do fazer parte
Sentia um misto de tédio e prazer quando, por repetidas vezes, lhe faziam a mesma pergunta desinteressada:
"Por onde você anda?"
Permanecia no oculto
Quando a criança desconfiada vinha à tona, se escondia n'algum canto, olhos por detrás das páginas de um livro
Sozinha, sentia falta de vida
Misturada, sentia saudade da solidão
Era nalgum estágio intermediário que se aceitava, mas não sem luta
Reclamavam que falava pouco
Mal sabiam dos vulcões que aguentava explodirem no peito a cada mudança de cenário