4 de março de 2010

Invisível

Tinha raiva da cara de desprezo do moço engravatado no banco ao lado, das meninas paralisadas de medo que fingiam não perceber sua existência, dos boys e seus MP3s.
"Tenho irmã!", dizia.
"Olha pra minha cara! Olha bem pra minha cara, pra nunca mais esquecer!", gritava.
Tirou a camisa, mostrou a cueca.
A quem parecia condená-lo por puxar conversa com alguma gaja, dizia "Tá pensando o que, mermão? Tenho irmã!"
O desequilíbrio o mantinha de pé enquanto o trem sacudia.
E se ele caísse? Quem nos salvaria de nossa própria mesquinhez se ele desabasasse?