24 de novembro de 2010

Ferida narcísica

Que tal eliminar os pilares imaginários que sustentam sua existência e admitir que você flutua sem rumo?
De repente assim você descobre pra que direção quer voar.

11 de novembro de 2010

Estivadora

Passo as noites no ofício de dividir todas as quinquilharias que acumulei na vida entre os quartos que já foram meus. As gavetas de dezenas de porta-jóias, as portas dos armários, tudo transborda meu vazio. Um vazio que é preciso manter em ORDEM, sob o risco do vazio desabar no abismo.
Ao fundo, uma daquelas musiquinhas irritantes que saem do porta-jóias enquanto a bailarina dança - linda, alienada, morta.

2 de novembro de 2010

Noite de G.H.

Fomos dormir na expectativa da barata.
Ela entrara em rasante imitando cigarra, pondo a gata em estado de caça e os presentes em estado de pânico.
Nos escondemos na cozinha. Os mais práticos trataram de procurar inseticidas. Os menos práticos se limitaram a lamentar a sorte: barata em casa.
Fugida das garras da gata, que pula alto mas não tem asas, ela se escondeu num dos cantos escuros do apartamento.
E nos deitamos na certeza de que, naquela noite, qualquer sombra, qualquer toque, qualquer arrastar seria barata, nas mil formas e texturas do medo.

Imagem: Cockroach, por shelilahtheguide, do Photobucket.