5 de agosto de 2010

Tentáculos

Vaso remendado traz na pele a marca da queda.
O acidente é o momento máximo de sua existência, é o que o constitui.
Ainda que o tenham convencido de que ele é frágil e que tem que se preservar; ainda que ele tenha criado medo do espinho vermelho-fresco; ainda que tenham se acumulado a poeira e as teias de aranha; ainda que a ideia do cheiro não seja mais que uma ideia.
Ainda assim.
Seu maior desejo continuará sendo a beirada da mesinha estreita da sala, ele, cheio d´água até a boca.
Bobo do vaso.
Sou vaso rachado, e, como é da minha natureza, não tenho medo de quebrar de novo.
Só que criei manias. E cismei que, agora, água rala não me basta.
É que hoje escorro fácil por vias tortas, dispersa nos mil atalhos dos meus pés-de-galinha.
Tenho muito a oferecer, mas muito a perder, e cansei de me desperdiçar. Minha porcelana não se acha na assistência técnica.
Decidi o seguinte: quero que me encham de terra bem molhada e plantem as rosas nas minhas entranhas.
Devo avisar que não tenho alças, mas tentáculos.

5 comentários:

s a u l o t a v e i r a disse...

Adorei a natureza, as vias tortas, atalhos e a experiencia confessada no pé-de-galinha.
Não se desperdice com nada, nem a nada. belos tentáculos, agarre-se com força, certeira.
Bjus.

Luiz Renato disse...

Rá, ficou demais.
Me senti um pouco vaso, mas com a diferença de querer sempre esconder minhas trincas.
Bjos.

Raíssa disse...

Haja Renew - ou superbonder - pra tanta pose! (rs...)

Bj, meu amor.

Anna K. Lacerda disse...

bela metáfora!
quando um vaso espatifa liberta seus fantasmas!

beijo

dansesurlamerde disse...

ah, que vaso bonito!

beijo.