30 de novembro de 2009

Moça com a xícara de café

O gosto do café instantâneo naquele início de tarde de sábado.
A luz que vinha da varanda era perfeita.
Ou era eu que irradiava?
Nossa história deveria ter se resumido ao filme resultante daquela sequencia: eu brincando no seu supercomputador, você preparando nosso café da manhã às três da tarde.
Beijos, poses, café instantâneo e fumaça.
Eu como passarinho entre seus braços cheios de veias.
Seus olhos.
Minha boca.
Um sábado.

17 de novembro de 2009

De repente outra vez

Foi assim.
Blues ou jazz, nenhum acorde lhe escapava.
Sozinha nas mesas dos inferninhos da cidade, caindo de sono.
Aplausos ocos de incentivo na madrugada.
Amor.
Mulherzinha feliz do músico mais lindo da banda.
Amigos, prazer?
Mulherzinha feliz.
De repente, amor sumiu.
Ficou com raiva dele.
“Você me roubou de mim”, ela dizia.
Começou a olhar para os músicos mais lindos das outras bandas.
Se entregava em prêmio porque não tinha ideia do que fazer de si mesma.

11 de novembro de 2009

Bela adormecida

Estou por fora da agenda cultural.
Da política, me intero como criança que assiste à missa de domingo na expectativa angustiante das promessas da praça em brasa.
Me vejo pintada num céu azul escuro, entre estrelas amarelas, de olhos fechados, abraçada a um livro que não leio nunca, porque estou dormindo.

Castelos (cobertos) de areia

Não noto mais sua ausência. Nem sua presença.
Você existir ou não existir não faz mais diferença.
Nem interfere no amor.
Você nunca esteve onde vai sempre estar.
Não me foi palpável nem mesmo nas poucas vezes em que foi.
É extrasensorial.
Nem sei dizer como te percebo.
Só sei que te sinto em alguma nuance entre o estômago e esse buraco cheio de dentes que chamam de “coração”.
E sei que às vezes você me sente também.
Não te noto.
Não falam mais em você.
Morro.
Nasço.